Por CREA-RN em 24/03/2017 às 03:51
O terceiro e último dia do Preparatório de Campinas para o 8º Fórum Mundial da Água teve a participação do engenheiro químico e ambiental Celso Luís Giampá, na manhã da quinta-feira (23). Com o tema “Água, a próxima guerra”, o especialista e autor do livro de mesmo título chamou atenção dos profissionais da área tecnológica para a crítica situação de disputa pelos recursos hídricos no planeta. “Estamos falando da próxima guerra. E nós somos responsáveis por evitar que ela aconteça”, alertou.
Ao público, Giampá informou que cerca de 80% da população mundial vive em áreas onde o abastecimento de água potável não é assegurado, de acordo com estudo publicado na revista científica Nature. “Isso está relacionado à ocupação desordenada do solo”. Para ele, a situação se agrava quando se pensa que em 2030, segundo previsão da Organização das Nações Unidas, a população mundial necessitará de 40% a mais de água, 50% mais energia e um fornecimento de alimentos 35% maior. “E tudo isso depende de recursos hídricos”.
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Preocupado com esse futuro próximo, o especialista fez outro prognóstico. O que nos aguarda, segundo ele, é uma situação em que teremos um único poço como fonte ou a água canalizada terá qualidade comprometida. “Já temos muitos casos de fornecimento de água não potável no Brasil. Isso é um crime que fazem com a população. É muito sério. Para se fazer tratamento de água tem que ter um engenheiro habilitado. Temos cobrado fiscalização nessa área por parte do Crea-SP, porque se der problemas no fornecimento, vira epidemia na cidade”, afirmou.
Essa mesma problemática é destaque da obra literária “Água, a próxima guerra”, de autoria do especialista, para quem é fundamental que os profissionais da área tecnológica encarem a água como bem indispensável. Caso contrário, muitas pessoas serão vítimas ou adoecerão. “Que a poupemos, que a respeitemos, que a protejamos”, defende Giampá.
A cada R$ 1 investido em saneamento, R$ 4 são economizados em saúde
A garantia de qualidade de vida para a população, por meio de saneamento básico, também foi pauta da segunda palestra da quinta-feira. O consultor do Instituto Trata Brasil e mestre em economia Pedro Scazufca apresentou os pontos centrais do Ranking do Saneamento 2017 realizado pela instituição.
O levantamento analisa uma série de indicadores da infraestrutura de saneamento das 100 maiores cidades do Brasil. Entre os itens analisados no ranking, estão atendimento de água, coleta e tratamento de esgoto, investimentos e perdas de água. As 20 melhores cidades são da Região Sudeste, do Paraná e outras duas apenas estão fora desse eixo. A primeira colocada é Franca, do Estado de São Paulo. “São localidades que apresentam uma operação mais eficiente tanto na distribuição universalizada da água quanto no tratamento de esgoto”, pontuou o palestrante. Já os dez piores municípios estão localizados na Região Norte e no Rio de Janeiro.
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O estudo faz ainda a correlação da incidência de doenças de veiculação hídrica, como dengue, diarreia, e leptospirose. Os resultados disso apontam que as cidades com piores indicadores de saneamento chegam a gastar cinco vezes mais com saúde. Por ano, o gasto total por habitante com essas enfermidades nas dez primeiras colocadas é de R$ 3,43 contra R$ 16,72 do que é gasto nos dez piores municípios da lista.
Os números de internações causadas por essas doenças também chamam atenção. Enquanto as dez melhores registram 6,3 internações por mil habitantes, as dez piores apresentam um índice duas vezes e meia maior. “Do ponto de vista do poder público, é investimento alocar recursos no setor de saneamento, pois se evitam problemas futuros e se geram benefícios diretos e indiretos, como o bem-estar da população e a valorização do ambiente urbano com atração de novos investidores”, comentou.
A ocorrência de problemáticas como essas, na opinião do palestrante, tem colocado a temática saneamento na agenda de debates do País. “Isso porque talvez temos problemas relacionados especialmente com a crise hídrica nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Esse tema tem ganhado uma atenção maior também porque tivemos um problema sério de doenças, como dengue e zika, que têm sua origem associadas com um saneamento inadequado”, analisou Scazufca, para quem a solução da universalização do saneamento passa pelo planejamento, regulação, gestão e atuação de engenheiros no desenvolvimento de projetos robustos voltados para a superação dos desafios do setor.
Confira entrevista exclusiva com o palestrante sobre o tema.
Texto e Imagens: Equipe de Comunicação do Confea