A tragédia em Beirute no Líbano pode ter sido causada por fatores naturais
Por CREA-RN em 06/08/2020 às 05:11 | Atualizado em 29/09/2020 às 02:12
O Dr. em engenharia de Minas e Segurança do Trabalho, Julio Cesar de Pontes, que também atua como professor do IFRN fez uma análise dos fatos que ocorreram após uma megaexplosão deixar mais de 4 mil feridos na área portuária de Beirute no Líbano. O governo atribuiu a tragédia ao armazenamento incorreto de toneladas de nitrato de amônio. Para o professor, as possíveis causas deste terrível acidentes no deposito de fertilizantes no Líbano na cidade de Beirute, “podem ter sido causadas por fatores naturais, como altas temperaturas localizadas, falta de controle da umidade, descargas elétricas e o tempo de confinamento do fertilizante (nitrato de amônio).
Confira a nota técnica sobre a tragédia em Beirute-Líbano
Por Dr. Eng de Minas e Seg. do Trabalho. Julio Cesar de Pontes
Engº de Minas e Segurança do Trabalho
Prof. do IFRN – Instrutor do Curso de Blaster
O fato ocorrido neste dia 4 de agosto de 2020 foi classificado por muitos jornais como mais uma tragédia, que desta vez ocorreu na cidade de Beirute no Líbano e que tem chocado o mundo registrando até o momento mais de 100 óbitos e mais de 4000 feridos. Do ponto de vista histórico, eventos semelhantes ocorreram em períodos diferente em outros países.
Considerando esta última tragédia no Líbano, ocorreram 16 acidentes com fertilizantes (NH4NO3) em outros países no interstício de 29 de novembro de 1988 a 12 de agosto de 2015 gerando uma perda de ~444 vidas humanas. O nitrato de amônio, enquanto fertilizante, não é inflamável. Seu processo de oxirredução ocorre quando submetido à temperaturas entre 140 e 200 graus Celsius. Quando esta substância está confinada os riscos de detonar aumentam, mesmo que não tenha contato com combustíveis ou iniciadores, por atuar como fonte de oxigênio (oxidante).
O nitrato de amônio armazenado se decompõe gerando vários subprodutos e/ou gases. Um dos produtos desta decomposição é o Tetranitrometano, cuja instabilidade e sensibilidade é considerada alta, iniciando o processo de quebra da estabilidade química do nitrato de amônio (NH4NO3). A decomposição térmica do nitrato de amônio, pode resultar em gases tóxicos, tais como os óxidos de nitrogênio e amônia. Por isso, não deve combater o incêndio envolvendo o nitrato de amônio com produtos químicos secos. O agente mais recomendado em combate a incêndio com fertilizantes é água natural.
Como medida de segurança é recomendado evitar fontes elétricas, combustíveis ao seu entorno e controle da umidade relativa do ar como procedimentos para mitigar os riscos de explosões. Enquanto manobras, em eventuais incêndios em fertilizantes, não se deve abafar o fogo, porque o confinamento da fonte de calor aumenta o risco de explosão.
Nos eventos como este ocorrido no Líbano, as autoridades de combate ao incêndio devem evacuar e isolar a área ao entorno do incêndio em perímetro de pelo menos 1,5 km. Portanto, as possíveis causas deste terrível acidentes no deposito de fertilizantes no Líbano na cidade de Beirute, podem ter sido causadas por fatores naturais, como altas temperaturas localizadas, falta de controle da umidade, descargas elétricas e o tempo de confinamento do fertilizante (nitrato de amônio).